Imagem da Ciranda

DADATRIX

Guardião Pedro Cardoso em 06/09/2020

Dadatrix

Sempre tive em mente que o Poetrix tem algumas vertentes. Com este entrevero borbulhando em minha cabeça, ofereço mais uma, para o seu deleite ou desgosto, o Dadatrix.

O que estou propondo neste momento não tem o conteúdo totalmente anárquico como o da cultura Dadaísta. Movimento de vanguarda que teve inicio em Zurique no ano de 1916. O Dadaísmo é um movimento que tem como características principais o caráter ilógico, a antiarte, a anarquia, o deboche e o protesto, por excelência.
Vale ressaltar, portanto, que não se trata do Dadaísmo propriamente dito. Ele seria apenas uma "referência" significativa. Não há que ser tão anárquico quanto.

É fundamental dizer que não dá para jogarmos algumas palavras ao léu e dizermos que o que foi ao chão seja um poema Dadatrix, ainda que o Dadaísmo seja o pano de fundo de minha proposta.

O texto em si, deve ser resumido.
Na medida do possível, não deve contemplar em sua estrutura poética qualquer pronome, por tratar-se de um texto conciso e minimalista, por excelência. Ressalto que o pronome indica a pessoa do discurso. Neste caso, o poema tenderia para o patamar usual, o que não é desejável.

Os vocábulos devem ser grafados em três versos de acordo com as tendências e convicções do autor no momento da criação.

A estética do poema não é relevante, não faz sentido.

É de suma importância que o Dadatrix nasça pronto, sem retoques ou emendas, uma arte acidental!

O título tem que fazer parte do contexto, porém, não pode nomear o assunto e, muito menos, dar identidade ao Dadatrix.

Sua beleza depende da ótica de quem o lê e de como ele será visto em sua totalidade.

Mais um detalhe: não se deve usar rimas.

Minha proposta é que façamos poemas minúsculos, mas que tenham luz entre os seus versos, que, associados, tragam uma nova narrativa artística.
É imprescindível que proporcione ao leitor a possibilidade da contemplação visual e auditiva. Se isto não acontecer, o Dadatrix perde o seu objetivo prático, que é fazer com que o leitor reflita sobre o que está ao seu alcance, com outros olhos. Ou ainda, que o leitor tenha uma nova perspectiva diante da realidade que o cerca no dia a dia. Afora isto, o poema deve ser descartado de imediato.

Acredito que esta nova temática seja divertida e cabulosa. Ao fim, um passa-tempo sem qualquer rigor literário.

Não custa lembrar que o Poetrix permite que tenhamos trinta sílabas poéticas, divididas aleatoriamente em seus três versos. Esta premissa deve ser respeitada.

Nota: Corre a passos miúdos que "O pensamento se faz na boca..."

Alguns exemplos do que estou propondo:

SABIÁ ATREVIDO
boi-bumbá
reza novena
a grimpa tombou!

Vou esmiuçar a teoria que estou propondo tomando por base o exemplo de Dadatrix acima: "Sabiá atrevido", para que você, leitor, possa compartilhar comigo uma das possibilidades de leitura do poema.

Veja bem, por definição, boi-bumbá é uma dança do folclore popular brasileiro, com personagens humanos e animais de grande porte, que giram em torno de uma lenda sobre a morte e ressurreição de um boi.
No texto temos a figura do boi e do sabiá, que são animais vistosos mas completamente distintos.
A dança em si, é uma encenação entre bois e humanos e não entre pássaros, o que deixa clara a intenção anárquica e o visível deboche.

O segundo verso diz: reza novena. É importante frisar que novena é a reza de um conjunto de orações praticada por grupos de pessoas religiosas, durante o período de nove dias. Não existe, aqui, qualquer relação com a dança do boi-bumbá. Portanto uma desordem de caráter ilógico do texto.

Volto a afirmar que a beleza do Dadatrix depende da ótica de quem o lê e de como ele será visto em sua finitude.

Para terminar, "Sabiá atrevido", na grimpa da árvore, tombou. Ou seja, ele não tinha nada a ver com a dança do boi-bumbá, estava ali por mero acaso. No mais, o sabiá é uma ave que tem como hábito comer bichinhos que ficam no chão, ele não é visto no cume das árvores. Um pássaro retraído, nada atrevido.

PEDRO CARDOSO

C001 - SABIÁ ATREVIDO
@Pedro Cardoso

boi-bumbá
reza novena
a grimpa tombou!

C002 - CARAMUJO AVESSO
@Pedro Cardoso

dobra para a direita
esquerda volver
morte lenta

C003 - MACACO FALA MANSA
@Pedro Cardoso

ora-pro-nóbis
festa de boiadeiro
cavalo de xucro

C004 - CAVALO DE PAU
@Pedro Cardoso

era uma mula
de duas cabeças
cobra-cega

C005 - BEZERROS DE OURO
@Pedro Cardoso

corria a chuva
pingos baios
no barro preto

C006 - PEIXE-BOI
@Pedro Cardoso

poderoso tubarão
sobrevoava riscando o céu
cortes profundos

C007 - ERA UMAS...
@Pedro Cardoso

pombas em revoada
na porta do cemitério
asas de xícaras no chão

C008 - SERVIDÃO
@Pedro Cardoso

damas de paus
correntes de ouro
tramelas a meio pau

C009 - TRUCO, LADRÃO!
@Pedro Cardoso

era um
era nada
era tudo

C010 - RIO DOCE
@Pedro Cardoso

enxame de borboletas
passeava nas margens
do Planalto Central

C011 - ZOOLÓGICO
@Pedro Cardoso

corria solto
pássaro cativo
asas paridas

C012 - SOBREVIVÊNCIA
@Pedro Cardoso

Palácio do ódio
inundado de traíras
hienas soltas

C013 - BOLA DE FOGO
@Pedro Cardoso

mundo revira
avesso, sujeito
100 predicados

C014 - MODELO
@Pedro Cardoso

a corda bamba
esgarçava o ferro
passava roupa

C015 - VIRADO NUM BODE
@Pedro Cardoso

boi trotando
na passarela
cavalo baio

C016 - CUBA DE LOUÇA
@Pedro Cardoso

estrela vermelha
boina Chê Guevara
pés de barro

C017 - VASO
@Pedro Cardoso

de barro
a peso de ouro
pechincha

C018 - LUA
@Pedro Cardoso

bola de couro
copa do mundo
mané pelado

C019 - PEÃO
@Pedro Cardoso

roda moinho
boi de piranha
traíra no anzol

C020 - O REI SOU EU
@Pedro Cardoso

no xadrez
sol quadrado
angulo reto

C021 - ESTRELA CADENTE
@Pedro Cardoso

na testa do boi
triângulo equilátero
marca registrada

C022 - BEIJA-FLOR
@Pedro Cardoso

a flor
não era bela
espanca

C023 - O GRITO
@Pedro Cardoso

era oco
ensurdecedor
silêncio

C024 - SKRIK
@Lorenzo

Preso ao quadro
Ecoa em Oslo
Nosso susto de cada dia

C025 - CIRANDA DADATRIX
@Lorenzo

Girando como pá
Saiu o poetrix
Ficou sem gravidade

C026 - NOVO NORMAL
@Pedro Cardoso

elefante sem tromba
leão sem juba,
festa na savana

C027 - CAMBIANTE
@Pedro Cardoso

carro vermelho
motorista
furta-cor

C028 - PANDEMIA
@Rita Queiroz

Cobras e lagartos
Deus nos acuda
Gatos escaldados

C029 - DESBOTADO
@RonaldorJacobina

Palácio no ódio
Sapatos sujos
Hipocritas no pódio!

C030 - DESNATURA
@RonaldorJacobina

Cavalo de pau
Pássaro de aço
Cobra de cristal

C031 - CAVALGADURA
@Vera Azevedo

Trote
Cavalo de Tróia
Moleque trola

C032 - CIRANDA MALUCA
@Luciene Avanzini

Chuva de areia
Pulava cerca
Entra na dança

C033 - PANDEMIA CHEGOU
@Luciene Avanzini

Morcego comido
Saci ganha pernas
Cristal despedaçado

C034 - APRENDIZ DE FEITICEIRO
@Luciene Avanzini

Corrida longa
Mar azul
Elixir dourado

C035 - SOLIDÃO
@Luciene Avanzini

Dia ensolarado
Cachorro miando
Morto vivo

C036 - ALUADA NO QUINTAL
@Luciene Avanzini

Vaca atolada
Poesia estradeira
Bola de neve derreteu

C037 - HEDONISMO MADURO
@Luciene Avanzini

Manga verde
Sal marinho
Prazer dos sentidos

C038 - ABANDONO
@Luciene Avanzini

Lixão cresceu
Vem manada de patos
Mangue seco

C039 - DESEQUILÍBRIO ECOLÓGICO
@Luciene Avanzini

Laranja mecânica
Macaco hidráulico
Saara floresce

C040 - LOUCA CONSCIÊNCIA
@Luciene Avanzini

Mente in_sana
Cavalo alado canta
Escrituras Sagradas

C041 - FERMENTOS PARA VIDA
@Luciene Avanzini

Guano de morcego
Titica de galinha
Pão cresceu

C042 - O SEGREDO
@Luciene Avanzini

Telefone sem fio
Tesouro dos piratas
Amar é cuidar

C043 - RESTAURAÇÃO DA VIDA
@Luciene Avanzini

Vaso quebrado
Flores brotam
Primavera sentida

C044 - SINFONIA NO CAMPO
@Luciene Avanzini

Cascavel avisa
Cigarras trabalham
Bailam ventos alísios

C045 - SAMBA DO RIACHO
@Luciene Avanzini

Correnteza forte
Pedras voam
Ararinha-azul dança na terra

C046 - ÁGUA ARDENTE
@Luciene Avanzini

Terra explorada
Alquimia
Pássaros não bebem

C047 - ??
@Isicaruso

??
??
??

C048 - LAMBEDURAS
@Rita Queiroz

Fogo na roupa
Teto mínimo
Tudo por água abaixo

C049 - SAMBA INVERTIDO
@Rita Queiroz

Fake news
Chão rachado
Pandemônio

C050 - LUA CHEIA
@Rita Queiroz

Bola murcha
Rasteirinha em promoção
Placar: 0 X 0

C051 - ALQUIMIA
@RonaldorJacobina

Pedra de vidro
Cardume de polvo
Dadadivoso

C052 - AVENTURA
@Beth Iacomini

Mico-leão
Arrasta-se ao chão
... Caça às traças no quintal

C053 - AOS DEDOS , OS ACHADOS.
@Vera Azevedo

Catar piolho
Catar feijão
Catar poema porque quero

C054 - ZOO IN_LÓGICO
@Luciene Avanzini

Leão pelado
Caça aos padrões
Rei (de)posto

C055 - ENTRE MUROS
@Luciene Avanzini

Sol incide
Rosa sorri
Vaca louca caiu

C056 - DADATRIX NA CIRANDA
@Luciene Avanzini

Em construção...
Borboletas viram águias
Anarquistas graças a Deus

C057 - JOGO DO BICHO
@Rita Queiroz

Cloroquina
Pé de coelho
Deu zebra

C058 - CAVALO DE PAU OU
@Isicaruso

Dada
Mundo do avesso
Terra plana

C059 - PLANALTO CENTRAL
@Rita Queiroz

O cão chupando manga
Circo dos horrores
Fim da farsa

C060 - EXTRAVASA
@Beth Iacomini

Enche o copo
Pega com os dentes
... Lago de cacos

C061 - VENTANIA
@Beth Iacomini

Pétalas voam
Até ao rio
Viram peixes

C062 - CONTRACENAR
@Lorenzo

Fez-se um hiato
Dialogo do Dadatrix
Fingia ser poetrix

C063 - ASSASSINATO EM PERSONALIDADE
@Lorenzo

Passou a vida achando que era
Mal sabia
Que não tinha sido

C064 - QUANDO MUITO... MUITO POUCO
@Lorenzo

Mesmo quando pouco é pouco
Farei do pouco muito
E ainda assim mais alguém

C065 - MEIO ROLANTE, MEIO ESCADA
@Lorenzo

Não sabia rolar
Mas subiu a escada
Mesmo sem ter onde ir

C066 - FUNDO DO POÇO
@Lorenzo

A gota mais funda
Sustenta nas costas
Todas superiores

C067 - EMPTYNESS
@Lorenzo

Less
Over
Full

C068 - CONTRADITADO
@Lorenzo

Contradigo
O contraditório
Contranãodizendo

C069 - CAVERNAS
@Lorenzo

Perdi-me em tantas,
Que hoje não tenho saída.
Vivo em cavidades

C070 - CHAPADO
@Lorenzo

Coberto de chapa
Vivia na diamantina
Distintamente

C071 - COMPLEXO
@Lorenzo

Enxuto
Completo
Concúbito

C071A - COMPLEXO
@Lorenzo

Com

Bitú

C072 - TRANSCENDÊNCIA
@Luciene Avanzini

Aquém do além
Ilimitado
Portas quebradas

C073 - REDE SOCIAL
@Luciene Avanzini

Aproxima
Separa
Mentiras

C074 - XEQUE-MATE
@Luciene Avanzini

Piso xadrez
Rei e Rainha
Amazônia desertificada

C075 - BOLA DA VEZ
@Luciene Avanzini

Encaçapará
Bico de sinuca
Bem ou mal

C076 - CARROSSEL
@Luciene Avanzini

Trotes des_controlados
Roda moinho constante
Nem lá... Nem cá

C077 - CORDA BAMBA
@Luciene Avanzini

Enquadra
Equilibra
Cai no samba

C078 - PEDRA NO CABARET
@RonaldorJacobina

Doidão
Deu
Dadá

C079 - JULIUS SITE
@Lorenzo

Até tu Facebook?
Assassinou
Mas ressucitou

C080 - PÉROLAS DO ENEM
@Rita Queiroz

Bobo da corte
Pobreza corre solta
Gripezinha

C081 - REDES SOCIAIS
@Rita Queiroz

Felicidade escancarada
Mentes vazias
Câmbio dispara

C082 - RODA VIVA
@Rita Queiroz

Mortos de fome
Poesia?
Papel de embrulho

C083 - IMPRESSIONANTE
@Beth Iacomini

Nuvens vinho
Ameaçam a Terra
... Socorro!

C084 - ASSUSTADO
@Beth Iacomini

Carcará
Vai morrer de fome
Come o homem

C085 - INVASÃO
@Beth Iacomini

Bichos do mato
Vão pra cidade
Direto ao Planalto

C086 - DESVIO
@Beth Iacomini

Sem porteira
Correm cavalos
Derrubam tudo, até o nada

C087 - DOIDOS VARRIDOS
@Beth Iacomini

Tomam cloroquina
Fogo nas ventas
Corações explodem

C088 - ASA DELTA
@Luciene Avanzini

Maré cheia
Vento forte
Carcará sem asas

C089 - ASA DELTA
@Rita Queiroz

Plano de fuga
Arrepios na nuca
Biquíni cavadão

C090 - DADATRIX
@Rita Queiroz

Ratos na piscina
Porão vazio
Dadá compila

C091 - TÉTRICA CENA
@Isicaruso

Tele sedución
¿por qué ahora?
Venganza

C092 - INESPERADO
@Beth Iacomini

Na hora do enterro
Pulo do gato
Destino: confins do Judas

C093 - INESPERADO
@Rita Queiroz

Caiu
O rabo ficou em pé
Cavalo sumiu

C094 - MEMORIAS DE CARACOLAS
@Isicaruso

La marioneta sonrió
Orilla del mar
Recuerdos al oido

C095 - DE PAPO PRO AR
@Beth Iacomini

Numa boa
Manga caiu
Rasgou sua boca

C096 - NO POMAR
@Beth Iacomini

Bacia de jabuticabas
Escorrega na casca
Frutas rolam morro abaixo

C097 - TROMB-OSE
@Beth Iacomini

Em cada tromba
Uma dose
Elefantes se beijam

C098 - FIO DA NAVALHA
@Luciene Avanzini

Cego, não trabalha
Amola o corte
Desemprego cresce

C099 - NINHO VAZIO
@Luciene Avanzini

Gavião sumiu
Por um triz
Vão-se os dedos

C100 - RESÍDUOS IN_MEMORIAIS
@Luciene Avanzini

Co_lapsos
Deu branco
O alemão reina

C101 - VIDA SELVAGEM
@Marcelo Marques

Estudante dedicado
Adversário discipulador
Doméstico patrão.

Pressione enter para pesquisar ou ESC para sair